Lata de cores (2016)
Proposta para o I Salão de Artes Visuais de Navegantes-SC
A obra Lata de cores é um objeto artístico que carrega em si várias relações com teorias estéticas importantes. A começar pela noção de ready-made desenvolvida por Marcel Duchamp e as ideias desenvolvidas por Artur Danto em seus principais livros, ambos acreditam que um objeto do cotidiano pode ser transfigurado e assumir uma nova função estética desde que a ação sensível do artista estabeleça uma nova perspectiva ao observado, considerando tanto a forma quanto os aspectos funcionais da obra/objeto. Sobre tais questões formalistas e funcionais que uma lata de tinta pode sugerir estão o conceito de recipiente e protetor da corda cor, mas nesse caso o foco não está ligado diretamente à sua função primordial, mas sua adaptação. Ainda tentando romper com os limites que separam o conceito de Arte do de Vida, usamos a Lata como referência a profissão que o artista proponente desempenhou ainda na juventude, sendo assim a lata que foi anteriormente usada para carregar argamassa de concreto para construção civil agora é re-significada e manifesta uma dupla identidade: a do ex-servente de pedreiro e do agora artista plástico. Desse modo não trata-se apenas de uma Lata de cores no sentido objetivo do termo, mas de uma construção de objeto que representa a dualidade subjetiva que o proponente e a obra se inserem. Enquanto o proponente domina conhecimentos de ambas as funcionalidades do uso a de uma lata de tinta: carregar concreto e armazenar material para pintura, a obra como um espelho de auto-retrato expõe aquilo que o artista está cheio: conhecimento sobre arte e construção civil.
A construção do objeto/obra foi pensado a partir dos Conceitos Fundamentais da História da Arte de Heinrich Wölfflin (1915), do texto As bordas de Lorenzo Mammí (2012) e de algumas contribuições da escola da Bauhaus, visto que embora o concreto presente no interior da lata não escorre pelos cantos- respeitando as bordas- e a composição de cores e materiais tentam criar um certo contraste, direcionando o olhar de fora para dentro e da direção do cabo para a outra ponta no formato de linhas- considerado um dos conceitos wölfflinianos. De Bauhaus temos a simplicidade que a forma de uma lata pode ter e a cor branca. Aliás, a cor branca faz menção ainda à teoria das cores, que define a cor branca como o conjunto de todas as cores e novamente a ideia de recipiente evoca a configuração do museu cubo branco. Podemos também associar metaforicamente a lata pode também ser associada ao museu cubo branco e o excesso de cores, objetos, pedras, areias e cimento as obras de arte que ele salvaguarda em seu interior, mas que aos poucos sobressai aos seus domínios.
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